Ela estava balançando a si mesma em sua velha rede remendada, balançava e balançava, a brisa acariciava-lhe o rosto e sentia-se viva e capaz de tudo. Podia sentir o começo, podia ouvir, podia, podia... E não parava de embalar a si mesma na velha rede remendada. Balançava e balançava, como se estivesse balançando sua própria vida, balança, balança, calmamente, empurrão por empurrão, brisa por brisa, sonho por sonho...
Deitado na grama fria, ele sonhou com uma moça que se balançava numa velha rede remendada e esta, ao adormecer, sonhava com um cara que estava deitado numa grama fria e olhava perdido para o céu, absorvendo suas impressões e este, sonhava sonhos ininterruptos e intragáveis.
Gostaria de ter aquele homem para si. E embalá-lo consigo, em sua velha rede remendada.
"Quando tudo parece sem saída sempre se pode cantar. Por essa razão escrevo."
(Caio Fernando Abreu)
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