gosto de sentir. de sentir grande, sem esmolas e misérias. sentir por inteiro, sem escalas nem metades e economias. gosto de sentir de forma a ficar desorientada com o que se passa do lado de fora, como se eu fosse invadida, violada por algo grande e turbulento. viver não é fácil. sentir também não. mas sentir - sentir de verdade, com profundidade, olhar nos olhos e entrar em contato com essências e ondas - por mais tumultuoso que possa ser, e por mais que seja difícil e acabe por gerar transtornos - cedo ou tarde alguém se queima se afoga se explode -, sentir com ardor me é prova de que estou viva. e não há nada mais belo do que estar viva e se sentir viva.
nada mais magnífico e verdadeiro do que realinhar as próprias órbitas.
sem sentir, me pergunto qual o sentido disso tudo. sem queimar com ardor eu não me sinto eu não me vivo eu não existo realmente eu só flutuo no tempo-espaço.
só estar não é e jamais será o suficiente, mesmo que haja longos períodos de paz interior.
paz interior se torna uma formiga minúscula ao lado do sentir.
ela não me proporciona a noção de estar viva de entrar em contato com o que está além de sentir com grandeza imensurável de ficar louca de paixão de amor de desejo compartilhado, ela só mantem a matéria do meu corpo em movimento.
de que me vale estar viva sozinha? não há catarses epifanias aguardar com ansiedade até que falte menos de uma hora pra faltar menos de oito horas até que possamos nos ver nos tocar nos transmitir pensamentos via olhar entrar em sintonia de corpo presente olfato tato paladar, meu ascendente é touro, preciso do palpável pra saber que é verdade que existe que é real porque sentir também é roçar os ombros e o estômago tremer de excitação.
me pergunto sem sentir, quando vou viver de novo.
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