"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

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"Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa" (Rita Lee)

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sexta-feira, 11 de março de 2011

Mal me quer, bem te quer


Sou covarde e retrocedo quando devia continuar em frente, é verdade, você sabe disso, já é a segunda vez. Arrebentei as suas asas de propósito só para que você não pudesse voar junto a mim, só para que você não tivesse o desgosto ainda maior de subir e subir e cair feio, aquela velha estória de "quanto mais alto pior a queda". Mas é claro que não foi apenas pensando no seu bem estar que podei as suas asas, foi pensando no meu e no de terceiros... Eu te avisei, mas você continuou insistindo em voar comigo. E o que eu fiz? Te fiz flutuar uns poucos metros e soltei, maldade minha, eu sei. Me sinto péssima por estragar os seus sonhos de se ver livre dessa terra semi-árida e improdutiva, de se ver livre dela voando comigo para algum lugar nos céus, bem entre as nuvens, num paraíso que não pôde existir porque eu apedrejei tudo o que lhe dizia respeito. Mas não vou pedir desculpas, nem que me perdoe, não hoje, nem amanhã, mas um dia hei de fazê-lo. Então, depois de cortar as suas lindas asinhas e despedaçar os seus belos sonhos, quis reparar o irreparável, senti que podia, senti que estava sentindo certo, e talvez esteja, e o que eu fiz dessa vez? Não quis arrancar novamente as suas asas como se fossem pétalas, cantando "bem me quer, mal me quer...", então deixei que você voasse com alguém melhor, menos fraco...
Deixo você livre pra voar pra onde quiser, com quem quiser, quando quiser, só me promete que não vai deixar que cortem as suas asas novamente, só promete que não vai ficar como eu, lendo e relendo reminiscências e chorando o leite derramado, lendo nessas páginas as marcas do que foi desejado e não cumprido e chorando mais ainda. Enfim. Pode voar pra bem longe de mim, se quiser, porque olha, pior não pode ficar.



"Não fazemos o que queremos e, no entanto, somos responsáveis pelo que somos: eis a verdade." (Jean-Paul Sartre)