"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
"Eu me recuso a ser sócio de qualquer clube que me aceite como sócio." (Grouxo Marx)
"Repara bem no que não digo." (Leminski)
"Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa" (Rita Lee)

I am not but I am

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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

ode à bct

não bastasse irmão do jorel, cá estou eu enveredando por mais outro caminho sem volta. que minha bisavó materna, dulce (inclusive, compete fortemente com amanda para nome de bebês), não role no túmulo até fazer um buraco no caixão.

NÃO sou fulana.
NÃO sou beltrana.
NÃO sou nenhuma das tuas outras pessoas.
eu sou eu. diretamente do cartoon de nome: eu sou o máximo.

me deixa falar por escrita mesmo que pelo menos escrever eu faço bem.

muita coisa é difícil de puxar na memória, mas pensa como é excepcional uns bêjo no pescoço, se penso que mordo me arrepia. mas aí pula pra parte em que tô na entrada do paraíso - pois que sim, heaven is a place (no caso, person) on earth. bicho, é bagulho de triunfo celestial. e olha que se trata de uma fenda, e não de grandes portões alados de ouro maciço. é muito melhor que ouro maciço, é carne crua cheirando à

cheirando à








dá agonia, né
imagina essa fenda cheirando à.





imagina o calor emanando das coxas imagina o calor emanando da fenda viva que cheira à

eu fico transtornada. é volúpia disfarçada de outros nomes, transmutada em fendas que gotejam.

tem gente que joga ou dorme.
eu cultuo 01 fenda. eu bebo da fenda, fonte da vida.
mas pera pera pera, devagar.
primeiro eu suspiro à entrada do paraíso e o paraíso, que cheira à, tem sabor de

eu saboreio,
para saborear é necessário passar a língua bem devagar, né, todo mundo teoricamente sabe disso. todo mundo já comeu um doce saboroso na infância e se lambuzou inteira. todo mundo já saboreou doces com pressa e ardor. é ótimo também. mas todo mundo
todo mundo
(espero que todo mundo)
já receou o fim do doce saboroso e,
tendo em vista seu fim,
já saboreou devagarrrrr

imagina agora
imagina que a língua passeia devagar pela porta de entrada do paraíso que é essa fenda que goteja que cheira à

imagina, visualiza mentalmente essa cena: a fenda que goteja feito grito mudo irrefreável

aquele quadro de van gogh, o cara que cortou a própria orelha num surto

é viagem.







tua fenda é uma viagem. poderia ser até pasárgada, mas na real é interestelar.

como ia dizendo, a língua pela entrada da fenda passeia devagar, cada parte precisa ser cultuada louvada lambida. tua fenda é meu altar sagrado, eu deito pra rezar que essa reza é longa e no colchão eu preciso sarrar.

namoral namoralzinha tá zoando o eu-lírico, mas é esse que, com a língua que voz fala, também alimenta o teu desespero da alma


namoral
namoral lek
a língua começa devagar, mas se por um momento a fenda, entrada do paraíso que é tua buceta ensopada, arrasta na minha cara não tem volta não só tem tesão desenfreado você lembra é coisa de gente maluca intensa que gosta de sexo mais do que tudo exceto de amor imenso então é por isso que ralar a língua abençoada e o rostinho angelical nunca é demais sempre requer repetições eternas por isso ir embora é difícil o último dia, eu nunca queria que fosse o último, sempre mais um.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

black mirror do português brasileiro espelho preto

das inomináveis maravilhas de se descobrir a si mesma. e de se redescobrir a si mesma.
um par de décadas – mais dois giros anuais – em que pouca coisa pôde ser incluída na caixa do "faz sentido" e outros quatro anos em que muito mais de duas três quatro dúzias de pares de coisas, mais especificamente comportamentos e sensações e raciocínios, podem e são incluídas nas caixas – que já não tem como ser apenas uma – do "faz sentido".
para se viver é necessário viver.
como eu posso abrir uma embalagem plastificada que em si encerra uma tesoura quando, para tal, é necessário – OH! – ter uma tesoura em mãos?
eu poderia tentar rasgá-la. ou amassá-la brutalmente até que crivos viessem a surgir no plástico e este se autodesmanchasse? sim. e alguém alguém alguém nesse universo tão contido, por favor, me explique qual foi a mente sádica responsável por parir uma embalagem dessa.
sim, sabemos que há outras formas de abri-la, sim sabemos que podemos forçar a embalagem até que suas estruturas cedam. mas para que, eu pergunto, para que dar a quem futuramente irá abri-la tanto trabalho desnecessário?
esse é o mundo desde que é mundo.

um mundo mudo
um lugar carnal descarnado
fonte e cerne de incoerências
canal de excessivos desmanches
de impasses previsíveis
e imprevistos previamente adivinháveis
mundo, um lugar que é lugar quando nós o fazemos nosso lar
um lugar medonho, essencialmente equívoco e gerador de combustões
nosso lar, nosso espelho
telas apagadas que nos refletem a nós mesmos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

glacial

JÁ ROUBEI JÁ MATEI JÁ MENTI

cascatas de creme de milho
nosso paladar complementar

você precisa se bastar. quiçá um dia olhar pra trás será muito mais do que uma vã visão turvada, do que pontadas violentas com sentindo. talvez teu tempo de carregar outros mundos nas costas já tenha passado. o que resta agora é essa teimosia incerimoniosa em petrificar pretéritos imperfeitos. a gente põe pra dentro e depois tem de botar pra fora, é sempre a mesma ladainha, como comer e cagar. e o bota-fora pode ser doloroso, pode gerar hemorroidas, mas é ato imprescindível e ao final prazeroso.
alívio. leveza. soberba. vazio.

processo infindável,
parte do cosmos,
energias afluentes.

já roubei já matei já menti.