"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
"Eu me recuso a ser sócio de qualquer clube que me aceite como sócio." (Grouxo Marx)
"Repara bem no que não digo." (Leminski)
"Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa" (Rita Lee)

I am not but I am

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Enorme Zepelim

  Gosto de falar com as paredes. Nem sempre, mas gosto. O outro é sincronicamente interessante e estranho. Quem me vê refletida no espelho? O outro ou eu? Talvez eu tenha predileção a tomar caminhos tortuosos.
  Fruto proibido de olhos semicerrados.
  Tinta colorida em luz negra.
  Músicas e bebidas e cigarros.
  The Cure... Não me cure. Minha enfermidade, minha paz avulsa de ponta-cabeça.
  Taquicardias mundanas, desejosas de atritos incoerentes e vindos do enorme zepelim.









“Tenho problemas com o rosto humano. Acho muito difícil olhar para ele. Encontro a soma total da vida de cada pessoa escrita nele e é uma visão terrível. Quando se vêm milhares de rostos em um só dia, é cansativo dos pés à cabeça. E por todas as entranhas. É por isso que admiro os bilheteiros do hipódromo. E a maioria é bem legal. Acho que os anos que passaram lidando com a humanidade lhes deram uma certa visão. Por exemplo, sabem que a maior parte da raça humana é uma grande merda. Eu poderia ficar em casa. Poderia trancar a porta e brincar com tintas ou qualquer coisa assim. Mas, de alguma forma, tenho que sair, e ter a certeza que toda a humanidade é uma grande merda. Como se fosse mudar…” (Charles Bukowski)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Misto de gauche e licença poética

  Quando fecho os olhos sinto como se estivesse bêbada. Como é sair de si, flutuar pra fora do próprio corpo, ficar suspensa como que perdida no ar contemplando a si mesma meio viva, meio morta, estirada no tapete colorido com os pés nus tocando o piso frio de tábua corrida? Ser hippie parece tão cool. Eu não aconteci em Woodstock... Nem você. Mas "você", que eu quero dizer, sou eu, minha mente, meus pensamentos um tanto embaraçados feito os meus fios de cabelo.
  E você, o que você quer? A festa acabou, você acabou, o dia raiou, a noite findou. "Ou". Por que sou tão in? Preciso ser out, completamente out. Quero outs. Também quero sins. Não estou dando uma de Caio, imagina... Quero paz e quero guerra. Mas não quero qualquer paz, tampouco qualquer guerra. Quero a paz de espírito dos hippies dos anos 60 - a que eu suponho que tivessem, visto que é a sensação que me passam -, quero a guerra dos loucos. Eu sou louca. Indiscretamente assumo minha loucura sã. Discretamente tento controlá-la, mas só às vezes, bem às vezes, quase nunca. Não pretendo obter êxito quanto à essa proeza, de qualquer modo. Pra que controlar minhas loucuras se posso devanear milênios sob seus efeitos translúcidos, magníficos, magnânimos, mágicos, monstruosos, sediciosos... "osos"? Isso tudo é tão in. Eu sou in. Eu sou in e minha loucura não cabe em mim. Minha loucura necessita expandir-se, vazar para além de mim e contagiar.
  Dormir sem calcinha é ato digno. Pelada, mais ainda. Digno também é viver o hoje sem ficar cuspindo no passado e tentando adivinhar a cara do futuro. Eu não rascunho os meus dias. Eu engulo o papier-mâché. Não gosto de liquid paper. Saudável mesmo é viver cometendo erros proveitosos. Saudável é escutar sandices enquanto a brisa do mar beija o rosto. Não queria isso, mas pensei em shimbalaiê por um instante... "Você não me ensinou a te esquecer", Caetano me entenderia. Freud, não.
  Me adivinho no compasso dos segundos, nas clareiras do tempo zero, me adivinho no som que emudece a rotina cantilena. Diria que também "te" adivinho, mas estou devaneando comigo mesma... Queria dias mais longos, tristezas mais curtas, pores-do-sol em comprimidos. Queria amor enlatado. Papel rabiscado, fracasso esmagado. Rimas sofisticadas. Não faço sentido.
  Me sussurram mordidas e ecôo Júpiter. Madrugadas voluptuosas ou ingênuas, tanto faz. José é in, assim como eu. "E agora, José?". Sei que não quero terminar como José, seja José de Carlos, seja José de ninguém como se fosse João, mas que na verdade não é, e sim apenas outro pobre diabo esquecido. Lembrei: eu não termino. Sou infindável... Dinheiro na mão é vendaval, pois bem, eu também.
  É me definindo no indiscutível que vou me recompondo ao zero grau de libra em itálico. Se eu fosse um país... Mas isso jamais me ocorreu. Se eu fosse um poema... Mas posso ser tantos que não cabe a mim delimitar... Ou cabe? Sei que sou poesia de cego... Não importa, não "posso ser" tantos poemas, pois "sou", de fato sou, em negrito e sublinhado, tantos poemas quantos forem possíveis de se imaginar. Eu sou o ópio, o ópio do povo. Mentira. Marx, futebol e catolicismo já ocupam esse espaço toptoptop de linha no pódio dos vencedores que não vencem nunca porra nenhuma. A verdade é que eu não caibo em mim.
  Mas continuo caminhando por aí - caminhando, sim, porque vagando daria outros ares, que não indizíveis, porém, errôneos -, me perdendo nas tolices de todos-os-dias... Amém. Continuo por aí, errando obras-primas, cagando cheiroso, desconstruindo rimas, tomando banho de sol, de lua, de mar, até de neblina, pensando breguices, distribuindo patadas, presenteando com flores porque pessoas também morrem, vale lembrar. E continuo por aí, atuando em palcos improvisados por sobre areia. E caminho contra o vento, nada no bolso ou nas mãos... Se tenho amores vãos? Tive. Tive um. Mas já disse que não se deve viver cuspindo no passado, portanto, viremos a página. Tem outra coisa, também vivo amando. Não é a mando do capeta, apesar de vez e outra parecer, é um vivo amando do tipo amando sempre, sempre amando, é um amando ora apaixonado, ora embrutecido... É um Amor dos loucos e chafurdados na merda lodaçal das inseguranças infrutíferas, mas e daí, é Amor, e antes o Amor dos loucos e desvairados que dos fracos e oprimidos, dos medíocres bastardos sem perspectivas delirantes, que das criaturas agourentas e hediondas que nunca, jamais, em hipótese alguma suspiraram Saturno - ou suspiram. Tenho dito. E comprovado. Sério, com selo do INMETRO e tudo. Mas enfim, amando e vivendo. Amando e amando... Aliás, há amando e a-mandos.
  Risos, risos, beijo, beijo.






"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida." (Carlos Drummond de Andrade - Poema de Sete Faces - Antologia Poética)

"- Como é que você sabe?
[...]
- Sei de muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda.
- Eu não sei nada.
- Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo.
- Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo.
- Ninguém compreende.
- Às vezes sim. Eu te ensino.
- Difícil, [...]" (Caio Fernando Abreu - O dia que Júpiter encontrou Saturno - Morangos Mofados)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Roda Viva

  Ai de mim, não gostar de subversão, das subjetividades do momento, de memória. Também gosto de pureza, da inocência irrefutável de certas criaturas. Queria ser direta, mas a prolixidade não permite. Ah, e os conformismos... Malditos sejam.
  Seu cabelo curto e enegrecido me cativou. E o seu, cabelo comprido e ruivo, também. Sei lá, acho que só muda a embalagem, o resto é a mesma coisa. Você, ela, eu... Ironias dessa imensurável Roda Viva. Roda Viva. Roda Viva. Como isso deve soar em latim? Roda Viva. Perdão, não sei latim. Então por que pensar em como deve soar nessa língua? Não sei, curiosidade? O poder do questionamento? Bobagem... Roda Viva.
  O tempo dissimula e nem você nem eu conspiramos contra isso. Queria ver-te mais vezes, sorver-te... Aspirar seu cheiro, suas ideias, suas manias... Queria, queria. Mais do que tudo, queria que fosse recíproco, queria que me quisesse de maneira equiparável, queria que tivéssemos "delírios de grandeza - que só cabem na loucura -" juntas. Queria, queria... Quero. Embora tenha medo, peço-lhe mentalmente: "vem surtar comigo". 





"Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu" (Fernando Pessoa)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Apoplexia social

Uma entrada estóica
um passo flutuante
bolha ululante

Um passo para o fim do penhasco,
amor é fiasco inerente,
cala a porra da boca e mostra os dente'

Outro passo em falso
futuro descascado feito a tinta da parede da sala atrás do sofá listrado,
fada verde e cigarrinho do capeta
não preciso mais de caderneta

Período integral
Lapa moral,
Não sinto muito, sou marginal

Sociedade patriarcal
amor maternal
Não quero você no meu funeral.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Lembranças esquecidas


  Sei que nunca vou esquecer meu primeiro pôr-do-sol das pedras do Arpoador. Não, eu não escolho de quais lembranças não devo esquecer, mas há certas coisas que são preferíveis deixar que se apaguem, que desapareçam. Desse pôr-do-sol certamente para sempre lembrarei, e do menino que me disse breguices no cinema enquanto assistíamos a um filme fantástico e ao qual eu não queria deixar de prestar atenção. Vou esquecer de lembrar de algumas pessoas e de rir-me sozinha lembrando fatos deliciosamente memoráveis. Também esquecerei daqueles carinhos que me fizeram na cabeça e de como aqueles dias eram imperdíveis. Já até esqueci os números do celular e da casa... E a cada dia que se passa estando longe, esqueço o rosto que um dia tanto me fez querer viver e tanto me fez querer virar poeira. Esqueço o inesquecível como se fosse um acontecimento fugaz e sem importância. O inusitado sempre me chamou pelo nome carinhosamente. Esqueço da fugacidade daqueles dias de banco para dar lugar ao novo desconhecido que me grita com fúria.
  Talvez meus passos fiquem marcados no infinito do espaço como se fossem constelações que sussurram nomes para as demais estrelas em busca do caminho da casa daquela que esqueço todos os dias, cada dia mais. Em vão, em vão...




"Quando era jovem, eu a mim dizia: 
Como passam os dias, dia a dia, 
E nada conseguido ou intentado! 
Mais velho, digo, com igual enfado: 
Como, dia após dia, os dias vão, 
Sem nada feito e nada na intenção! 
Assim, naturalmente, envelhecido, 
Direi, e com igual voz e sentido: 
Um dia virá o dia em que já não 
Direi mais nada. 
Quem nada foi nem é não dirá nada."
(Fernando Pessoa - na voz de Paulo Autran)




“Aquele mal secreto que a consumia e com o qual os médicos não se importavam muito - sem dúvida por não saberem dar-lhe um nome - parecia a Pascal uma espécie de desencarnação; nem todas as doenças vêm do corpo; uma alma por demais ardente pode usar seu invólucro carnal até aniquilá-lo; mas - infelizmente - nesse esforço para se depurar, não arruinaria a si própria? Naquele momento extremo em que o espírito se libera afinal, não se desvanecerá para sempre? Talvez fique suspenso, durante um breve clarão, numa lucidez absoluta. Como ocorria todas as vezes em que pensava na morte, Pascal sentiu-se acometido por uma vertigem. Suas considerações o levavam com frequência a esse tema, mas só conseguia considerá-lo por alguns segundos.” (Simone de Beauvoir - Quando o Espiritual Domina (La Primauté du Spirituel; cap. IV, Anne; pág. 169)




“Senhor, livrai-nos de tréguas muito prolongadas e da ilusão de haver chegado seja lá onde for.” (Claudel)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Outro Pecado



  Penso que a sua mão-de-obra vale mais do que qualquer dinheiro pode pagar. Porque não é só a sua mão-de-obra, não é só a sua força de trabalho que está sendo usurpada, é a sua vida que se esvai naquelas penosas horas de trabalho maquinal mal-remuneradas.
  Eles te pagam uma miséria pela sua vida que se esvai porque para eles você não tem valor estimado, você não tem importância, você é descartável. Porque para eles você é os outros, e você e os outros são tantos e são um só.
  É uma injustiça brutal vincular coisas como vida à valor monetário, à capital, às duras horas de suor derramado nas indústrias só para aquecer o mercado, a economia, só para fazer dos ricos ainda mais ricos. Esse sim, é o verdadeiro pecado.



“Quanto mais riqueza o trabalhador produz, quanto mais a potência e o alcance do seu produto aumenta, mais pobre ele se torna. O trabalhador se torna uma commoditie cada vez mais barata de acordo com a quantidade de mercadoria que ele produz.” (Karl Marx)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Elogio Perdido




    Por que toda borboleta tem essa maldita sede de voar? Por que não lhes basta repousar em um abrigo confortável?


    Como você pode afirmar que toda borboleta tem sede de voar? E se essa sede for esgotável? E se elas têm sede de voar, não pelo ato de voar, mas por encontrar um abrigo confortável, e por isso voam sem parar? E depois, o que é confortável e seguro nesse mundo? Segurança não existe, paz não existe, confiança não existe, amizade não existe, Amor não existe, céu e inferno não existem, Deus não existe, é tudo invenção. Você e eu também não existimos. Ou somos nada, ou somos tudo, se tudo não somos, nem nada, então somos porra nenhuma, o resto dos restos, o intragável. Mas talvez você seja alguma coisa mais que tudo e eu que não seja absolutamente nada, talvez você exista sozinha e respire sozinha, talvez você seja um "abrigo confortável" e eu não seja digna de repousar. Talvez não seja nem pela sede de voar, mas apenas isso, uma borboleta maldita.











 "Há um poema dentro de mim. Destes de marejar os olhos, de sentir orgulho. Só pode ser um poema de amor. Detalhando os caminhos pelas cicatrizes e encontrando algo desacreditado, um sonho sem visitas, tua verdade mais bem protegida. O poema mistura versos e prosa despreocupado de rimas e intenso na escolha das palavras. Sim, falará dos beijos molhados e dos corpos livres. Mas também vai lembrar da primeira carta guardada no criado mudo, próximo da nossa fé. Vai lembrar do olhar debaixo da chuva. Provavelmente descreverá a beleza de um ponto de vista totalmente parcial. Ele carrega a minha palavra mais preciosa e um ponto final elegante. Completa os sentidos que deixei pelo caminho, refaz meus passos por tudo que aprendi, abre os braços para tudo que não sei. Será uma composição que não saberei reproduzir, única, de forma bruta e deverá permanecer em palavra. Um poema que sussurra, mas não quer sair. Está a espreita de um raiar de Sol mais adequado. Ele é muito natural, mistura estrelas e flores com sentimentos. Quase tem cheiro. É um horizonte preenchido, uma paz conquistada, uma rima com o 'você'."

“Te amo da maneira mais egoísta possível.” (Ensejos)


“Se tu vens, por exemplo, 
às quatro da tarde, 
desde as três eu começarei a ser feliz.” (O Pequeno Príncipe)

“Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa que sem amor, a vida não vale a pena.” (Martha Medeiros)

“Baby, I’m yours
And I’ll be yours until two and two is three
Yours, until the mountains crumble to the sea
In other words, until eternity.” (Baby I'm yours - Arctic Monkeys, Barbara Lewis Cover)

“— Fica comigo?
— E se não der certo?
— A gente tenta de novo."

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Again and again and again...


  Quantas vezes ainda vou ter que ouvir que é pra eu esquecer, deixar pra lá, coisas assim? Quantas vezes ainda vou perder horas de banho pensando nisso? Quantas vezes vou esquecer das coisas de tanto pensar nela? Quantas vezes vou sentir esses enjoos por causa de ciúme e tristeza? Quan... Eu disse que esse ano não será mais outro ano lamuriando sobre essa questão. E não será mesmo... Cortei um mal pela raiz e se for preciso corto outro. Corto quantos forem necessários cortar. Sinto enjoo e calafrio só de pensar nisso, mas não sei mais o que fazer. Nada adianta, nada é o suficiente. Eu não sou o suficiente.
  Preferia arrancar as minhas orelhas e os meus olhos a ouvir e ler essas reclamações e esse sofrimento. Preferia virar poeira. Quantas vezes ainda vou dizer que preferia sumir? Quantas vezes ainda vou sentir como se houvesse centenas de cacos de vidro atravessando o meu coração lentamente?
  Sofrer é cada vez mais uma virtude. Meu coração podre é um delinquente descarado que só gosta de quem não me quer, de quem não se importa comigo. Vou partir para a psicologia reversa, talvez as coisas mudem... Para a melhor, de preferência.


Dos mesmos produtores de ‘eu te amo!’, vem aí ‘tomei no cu!’

domingo, 22 de janeiro de 2012

Querido José, muito obrigada

  – Você tem alguma fé na humanidade? – perguntou ela.
  – Se ainda existe quem tenha fé em deus, por que não na humanidade? – indaguei.


  Eu tenho algo, se fé ou não, eu não sei, mas tenho algo. Esse algo que sinto é uma crença fodida na humanidade. Há séculos as pessoas são estas repetidas figurinhas que vemos atualmente, só mudam as roupas e, quem sabe, os cortes de cabelo... Ah, e os aparelhos eletrônicos, estes, cada vez mais sofisticados e mais capazes de tornar-nos cronicamente sedentários, mas isso não vem ao caso.
  Segundo Thomas Hobbes, se não houvesse um Estado responsável por manter os homens em harmonia entre si, estes viveriam em uma constante guerra de todos contra todos, pois o homem, inatamente, é egoísta, pretensioso e ganancioso, ele nasce predisposto a fazer o que for necessário para obter o próprio lucro - mesmo que isso seja proporcionado em detrimento de outrem.


  O que vemos o Estado proporcionar aos cidadãos hoje em dia é o mesmo de sempre, o pão e o café-com-leite para os pobres - quando isso - e a torta de maçã e o champagne para os afortunados. E os homens vivem em uma guerra de todos contra todos mesmo havendo esse Estado tão glorioso. Enfim, ainda assim acredito no raio da humanidade. Apesar de as coisas estarem, em pleno século XXI, um caos, apesar de os homens continuarem insistindo em dominar uns aos outros, apesar de os homens continuarem insistindo em escravizar uns aos outros, em matar uns aos outros, em cuspir na cara da mãe uns dos outros, eu digo: acredito na humanidade. Mudou até agora. Mudou pra melhor? Não exatamente. Mudou pra pior? Não exatamente. Apenas mudou. E se um dia o mundo foi composto por reinos que eram governados por reis, e agora é composto por países que são governados por presidentes, que são responsáveis por suas máquinas do Estado, e que este - o Estado - por sua vez, é um instrumento de dominação - que atende ao capitalismo - usado em prol da grande burguesia, dos empresários, dos detentores dos meios de produção, das classes dominantes em detrimento das classes baixas, dos trabalhadores, dos operários, é prova de que vai mudar. Hoje em dia é assim. E um dia não será mais. O sistema mudou mais de uma vez, várias, na verdade, e continuará mudando. Isso é um fato.
  Eu acredito piamente nas pessoas. Sou ingênua por isso? Sou. E nada fará com que eu deixe de acreditar. É uma coisa muito minha, não sei explicar... Não é como se eu tentasse acreditar, apenas acredito, é uma crença incrustada. Acreditaria mesmo se não quisesse. Mesmo se não tivesse motivos para. Apenas sinto, e isso é o suficiente. Pode chamar de fé, não chamo de nada porque não sinto essa necessidade de nomear uma crença tão independente, tão inata... Dá pra entender!? É o meu sentimento - completamente desprovido de influências - de crença na humanidade, ele não precisa se chamar fé (!), sei que ele se contentaria em ser chamado somente de José. Simples assim.




Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. (Clarice Lipector)


São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas. (Caio Fernando Abreu)



"You may say
I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day
You'll join us
And the world will be as one"
(Imagine - The Beatles)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Matéria-prima


  As pessoas têm o mais sério hábito de não aceitar as outras pessoas como elas de fato são. Existem aquelas que aceitam, mas é inegável que elas nunca aceitam todas as vertentes, sempre haverá aquelas coisinhas, aqueles defeitos, aqueles "modos de agir" primitivos que elas não vão engolir de forma alguma e vão querer ficar  discutindo sobre tais coisas. É aí que está: não adianta conversar, aliás, como se isso fosse conversa, num geral as pessoas acabam discutindo mesmo. E é ridículo.
  O que quero dizer é: você não pode ser você mesmo. Jamais. Você sempre acaba tendo de ser mais complacente, generoso, meigo, introvertido, enrustido, sempre acaba tendo de eufemizar cada vez mais as suas expressões brutas. E para quê? Para agradar aos outros. E por que? Porque tudo o que é diferente de nós mesmos é inaceitável, é estranho, dá medo.
  


  Eu discordo dessa merda!!! Odeio essa camuflagem de um real e noventa e nove centavos! Isso é nojento! Eu gosto de tudo o que é na cara, que não é disfarçado, dúbio! Amo uma matéria-prima, eis a verdade, eis a questão! Amo uma ação primitiva! Amo o que não está tentando mudar a si por causa de A e B! Amo a ideia de aceitar a si mesmo e conviver com isso! Amo poder saber o que alguém realmente pensa sendo indiferente a minha opinião! ISSO É SER VERDADEIRO, PORRA! Chega dessa merda de falsidade! Quer coisa falsa? Vai à Uruguaiana, caralho! Aqui não tem isso, não, porra!



  É por isso que quando a minha mãe quer conversar sobre coisas em que ela e eu discordamos muito, eu prefiro ficar calada! Justamente pra evitar atrito, porque eu sei muitíssimo bem que, por mais que ela "aceite" a minha opinião, vai ficar aquela tensão no ar, e não vai adiantar de porra nenhuma, ela vai continuar pensando da forma dela e eu da minha. Acaba sendo uma conversa - discussão - desnecessária.





“Falta de sorte,
fui me corrigir.
Errei.” (Alice Ruiz)

“Se eu fosse fofa, meiga e sonsa, não teria metade dos meus problemas.” (Tati Bernardi)

“Seja flor e exale-me.” (Igor Pires)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A vida e eu

  Na minha casa alguma coisa entrou em colapso. Alguma coisa dentro dessa coisa se partiu e tudo foi para o brejo. O horto me chama. Ninguém diz nada. E quando diz é lorota.
  Quero ver a fumaça formar desenhos e subir, subir, subir... O doce é o amargo de amanhã?
  Entrei em parafuso e chorei assistindo a uma reportagem sobre a Primavera Árabe. Andando pela rua como se não houvesse amanhã, pensando breguices, fui ao McDonald's e na fila senti um ódio mortal dessa multinacional, do capitalismo, de toda essa loucura que consome as pessoas - e que as faz consumir como traças -, não obstante, comprei o lanche e voltei para casa. E foi comendo isso que assisti à reportagem sobre a Primavera Árabe e chorei, um choro amargo e silencioso.
  Alguma coisa quebrou, mas não foi nesse dia, foi antes. Alguma coisa quebrou e ninguém sabe, só eu, e, apesar de estar expondo, essas duas mil e doses não tomarei lamuriando. As tomarei num gole só, embevecendo-me ao extremo.
  A merda é que preciso de mais um dia ou dois para ficar a par de um chabu imprevisto, porém, muitíssimo previsível. Não estou na onda, por isso a chatice... Mas só de pensar no som da música Cochise - o som que começa a partir dos 55 segundos - do Audioslave já sinto a vibe e ela me faz vibrar em êxtase.
  A vida é uma só e eu também e além de tudo somos livres. Ela e eu, eu e ela. Par perfeito, em sintonia pura, naturalmente sincronizado e infinito. Causa e consequência. Amor e paixão. Erva e seda. E flui espontaneamente.
  "Flui...", penso nisso como se fosse um eco dentro da minha cabeça, como uma fumaça subindo e se espalhando por todos os lados, parece que está se expandindo. E essa trilha sonora enlaça o momento e embala todas as sensações. E é tão lindo, tão maravilhoso, tão místico, tão transcendental que chega a ser inenarrável. A ação é inenarrável e por isso a descrição é sublime e abstrata. Mas isso é mero detalhe, não importa a quem ler, importa a mim, apenas a mim. E para mim, assim está mais-do-que-perfeito.



"Repara no que não digo." (Leminski)

“E é nisto que se resume o sofrimento: 
cai a flor — e deixa o perfume no vento.” (Cecília Meireles)

"E nossos olhos transmitiam coisas indizíveis e infinitas, que nossas bocas não podiam falar." (Machado de Assis)

"Come ride with me
Through the veins of history
I'll show you a god
Who falls asleep on the job

And how can we win
When fools can be kings
Don't waste your time
Or time will waste you"
(Knights of Cydonia - Muse)