"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
"Eu me recuso a ser sócio de qualquer clube que me aceite como sócio." (Grouxo Marx)
"Repara bem no que não digo." (Leminski)
"Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa" (Rita Lee)

I am not but I am

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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

4:08

  Queria que essa música parasse de tocar na minha cabeça. Que o disco se partisse. Mas ele não pára. Ora, vaso ruim não quebra!
  Portanto, eis-me aqui.
  Aconteço diversas vezes, continuamente. Vivência sem fim por (des)excelência.

  Prevejo cerejeiras indesfrutáveis.
  Antecipo o desconforto.
  Toco a poeira com leveza inexistente.

  Recebo o não-contato, olhares mórbidos e insalubres por merecer.

  Fui-me indo.
  Ops, nem (me) vi.

  Estaquei em plena corda bamba.
  Esbarrei no muro das lamentações. Fiquei grudada.

Down em mim

  Chorei pitangas, contei carneiros, cantei MPB. Ouvi Caetano, Chico, Elis. Adorei outros mortais, alguns singulares. Ri pra não chorar. Chorei quando pude confortar-me a mim mesma. Inventei estórias e histórias, sofri por opção. Abracei-me à solidão. E com ela dancei. Vivi. Amei.
  Sou um pouco disso, um pouco daquilo. Fui outras coisas, de algumas um pouco mais, de outras nem tanto. Me agarrei ao encanto, gritei aos prantos. Pesquisei palavras difíceis só pra rimar bonito, e sofistiquei arrogâncias. Calei pra não ficar só. Deixei pra falar quando o silêncio me pediu.
  Já permiti-me apaixonar. E depois me tranquei em meu próprio infinito particular. Acho que perdi as chaves, sei lá. Labirintos de desilusões.

  Hoje em dia, como cenoura, e continuo não tomando água com gás. Agora toco em margaridas, cheiro o perfume das hortências e despetalo rosas. Aos girassóis dou muito amor e carinho, e água, e luz do sol.
  Antes eu pensava no agora, e agora guardo lembranças. Mas só as boas. As ruins, nessas eu dou descarga sempre que surgem boiando.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ponto de Equilíbrio

Ah, não. Por que é que tudo tem que ser tão perfeito, tão simétrico, tão fria e milimétrica e previamente calculado? Ah, não, ah, não. Por que tudo na vida tem que ser tão moralmente aceito, tão politicamente correto? Ah, não, que merda. Não consigo aceitar seguir esse roteiro de segunda, esse script vagabundo. Assim não dá pra viver, isso não é vida. Não estou nem aí para a normatividade, para moralidades. Pra que seguir o fluxo da correnteza? O que eu ganho com isso? Satisfação própria é que não é. De que vale fazer tudo o que eu deveria fazer do jeito que supõe-se que deveria ser ou melhor fazer tudo o que os outros deveriam fazer do jeito que todo mundo acha que deveria ser feito porque assim sempre foi feito porque é a regra porque todo mundo acha que tem que ser igual a todo mundo porque todo mundo tem que fazer as coisas do mesmo jeito ao mesmo tempo no tempo certo o tempo todo tudo corretamente sem erro algum porque falhar é feio porque não pode arriscar porque se foder é uma merda porque o tempo passa e voa e rodopia e devora porque a vida passa e finda e no forno o frango assa porq... Porque são todos uns palermas. Todos não passam de um bando de "zé-ruela".
E se eu não quiser viver essa vida? E se isso não for o que eu quero pra mim? E se eu não souber se é certo ou errado? E se o brilho da juventude for embora com o vento que traz a meia idade e esse "não quero essa vida pra mim" não bastar e for embora junto e eu me arrepender de tudo? E se eu for desses anjos tortos que vivem na sombra? Que que tem ser gauche na vida!? Quem disse que eu tenho que ser infeliz por não querer o que todo mundo quer exatamente do mesmo jeito ao mesmo tempo o tempo todo todo dia a qualquer hora em qualquer lugar a todo instante repetidas e repetidas vezes para todo o sempre em todos os sentidos e direções no pretérito presente e futuro em todas as encarnações de novo e de novo e de novo dando voltas infinitas atemporais porque é assim que tem que ser? Por que eu tenho que pensar que minha vida vai ser ruim se eu não for rica se eu não morar numa mansão do tamanho da Baía de Guanabara se eu não for heterossexual se eu não for alta loira branca e magra e linda do jeito que "todo mundo gosta" se eu não tiver o carro do ano a roupa do ano o cão de pedigree do ano o sapato do ano o look do ano o corte de cabelo também tem que ser o do ano porque senão tá tudo errado fora de contexto? Por que essa sina em fazer tudo por método de produção em massa todos tão iguais?
Igualdade, eu só quero nos direitos! O filme não deveria ser "Quem Quer Ser um Milionário", mas "Quem Quer Ser um Clone".
É lógico que passar perrengue é um cu preto e sem pregas claro que um erro pode acarretar num milhão de coisas horríveis que podem suceder em outras e mais outras e a vida é uma só claro que posso me arrepender claro que posso comer o pão escarrado e cuspido por uma modelete que tem o cabelo look carro etc etc do ano e voltar ao ponto de partida claro que isso seria um pé nos testículos fígado boca tudo admito que um dia mais tarde há a possibilidade de muitos arrependimentos mas vai dizer que é melhor se arrepender por ter feito algo ou pela dúvida de como teria sido se tivesse feito? Olha lá, calibra essa hipocrisia que "papai do céu" está de olho!
Quem disse que eu não posso muito bem me formar na faculdade e fazer até mestrado doutorado a porra toda do caralho a quatro e cagar para o sistema limpar a bunda lindamente nele pegar os diplomas e ir ser feliz vendendo miçanga em praia ser hippie mochileira viajar como der por aí a pé de bicicleta carona balão jangada foda-se não quero saber posso viver feliz ao léu se assim eu sentir que de alguma forma estou no meu lugar do meu jeito no meu tempo que não são os mesmos que os dos outros.
Precipitada eu? A vida é que se precipita para cima de todos nós como se fosse o coice de uma mula desvairada.




"Don't worry about a thing,
'Cause every little thing
Gonna be all right

Saying , don't worry about a thing
'Cause every little thing
Gonna be all right

Rise up this morning
Smile with the rising sun
Three little birds
It's by my doorstep
Singing sweet songs
Of melodies pure and true
Sayin',"This is my message to you""
(Bob Marley - Three Little Birds)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Caroles

Ela é para mim como esses dias que amanhecem nublados e que em torno do meio-dia surgem, timidamente, leves raios de sol, desses que arrepiam o corpo inteiro. São raios de sol bem leves, num geral ela é como um dia nublado com neblina. Neblina sempre me alegra e dá leveza no espírito.

Eu adorava quando passava de manhã bem cedo pelo Elevado da Perimetral em dias nublados e ficava como que hipnotizada vendo as montanhas ao longe envoltas em neblina. É uma beleza tão fina, tão sutil, tão doce... Sinto saudade.

Ela é como esses dias. Uma beleza rara, tímida e doce. Rara no jeito de ser. Tímida no falar e em se mostrar, como os raios de sol que aparecem em dias assim. E doce. Doce na voz, no falar, no beijo, no cheiro, no riso, no olhar. Doce no íntimo. Doce por fora. Doce como a neblina que me toca no espírito e me encanta e me enlaça numa fina e norteadora sensação de liberdade e leveza.


(Tenho muito a aprender).



sábado, 29 de junho de 2013

Elogios outonais

Gosto de adjetivos estigmatizados, gosto de atos polêmicos e incestuosos, e atos puros também - como beijo no rosto, olhos que sorriem, risadas estalidantes...
Dentre tanta pureza, descobri ultimamente algo que me deixa em êxtase, até mesmo feliz, se é que me entende... Descobri que gosto de elogios, mas não qualquer elogio. Gosto de elogios frágeis como as folhas no outono.
Sim, é meio triste, visto que no outono as folhas ressecam e caem. Entretanto, não quero e nem estou caracterizando os elogios aos quais me refiro como sendo impessoais, às vezes um tanto contundentes, mas jamais impessoais. Quero dizer que são elogios inesperados... Por isso são como as folhas no outono. Sabe-se que numa hora qualquer eles, os elogios, assim como as folhas no outono que estão prestes a cair - e por isso são frágeis -, também cairão, hão de ser ditos.


"— Não soube compreender coisa alguma! Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... Não podia jamais tê-la abandonado. Deveria ter percebido sua ternura por trás daquelas tolas mentiras. As flores são tão contraditórias! Mas eu era jovem demais para saber amá-la."
(Antoine de Saint-Exupéry - O Pequeno Príncipe)

sábado, 2 de março de 2013

Quiçá eu quero ver o 0C0

 Pois então revelarei-lhes o que parecemos: parecemos homenzinhos azuis à procura de uma gruta em que nos escondermos. Não adianta negar, bem lá no âmago sabemos que todos nós temos um quê de eremita. Cada um sabe esse detalhe inevitável de si mesmo, e, como já disse, não adianta negar.
 Meses... O que são meses? São meus pés saindo pelas mãos. São minha paciência se dissipando grão-a-grão bem diante do meu nariz. São meus cabelos caindo. São meus nervos à flor da pele. Meses são o fim iminente de todos os dias de nossas vidas. Como os dentes que caem na velhice e as articulações que já não obedecem mais.
 Esse mundo está definhando e todos nós estamos indo pelo mesmo ralo imundo e decrépito. Lógico, né... Nós cavamos esse ralo e não paramos jamais de cavar cada vez mais fundo, e tudo isso só porque nós queremos ver o OCO, o vazio alusivo a que nossas mentes tão inversamente sãs cismam em abraçar. Esse buraco pelo qual damos nossas vidas como se de fato valesse um cruzeiro é a desgraça pela qual procuramos pelo puro prazer de confundir e chantagear a mente do outro que se enfraquece. É um buraco que cada um guarda dentro de si... De si pra si. E de quando em vez tenta, impiedosamente, arremessá-lo para dentro de outrem para que este se acabe de uma vez. Como se tal ato fosse digníssimo.
 A cama e as portas rangem, não obstante a noite não promete nada. Talvez a vida também não. Quiçá eu também não prometa nada, ou prometa e não cumpra... E a vida sempre continua. Ou, como dizem os filmes hollywoodianos - e a música de mesmo título do inesquecível e amabilíssimo Freddie Mercury, vocalista da banda inglesa de rock, Queen -, "the show must go on".
 Mas isso já não é nenhuma novidade, não é mesmo compañeros? Promessa é uma coisa que soa tão... Era Medieval, sei lá. É uma ideia muito bonitinha, mas ainda assim uma bela utopia. Assim como democracia, poderes místicos vindos de deuses de uma outra dimensão, Amor e, sei lá, vaca de soja.
 Vai ver esse é um dos motivos pelos quais eu gosto muito mais dos meus livros do que de gente. Essa gente careta e debilitada que pensa que tudo é purpurina e palco. Do afeto emocional contorcido e do teatral megalomaníaco já estou farta. Sei que ao menos por um tempo, e esse tempo pode durar tanto por meses como por horas, poderei dizer que é bom pôr os pés, diga-se de passagem, muito bem postos, no chão. Talvez até fincá-los!