"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
"Eu me recuso a ser sócio de qualquer clube que me aceite como sócio." (Grouxo Marx)
"Repara bem no que não digo." (Leminski)
"Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa" (Rita Lee)

I am not but I am

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil

sábado, 17 de outubro de 2009

Daniela do Cravo

Todo o dia ela parava na janela
suspirava
Suspiros de pensamentos amorosos
Fantasiados


Nem o clima
ou a hora tardia
a tiravam da janela


Havia dois vasos,
Vasinho abóbora
Vasinho marrom,
Vaso de rosas amarelas
com cravos
Vaso de cáctus
sem espinhos


Nome que fura,
que espeta
Menina dos espinhos
afiados e tortinhos


Faz-me corar
ao passar pela janela,
Olha-me compenetradamente.
Oh, instigante garota da janela.


Oh, Daniela.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Machuca

"Não sei se me levo
ou se me acompanho"
É que agora,
justo agora,
sinto inimaginável vazio
Não dor
nem tristeza,
Apenas gigantesco vazio

No intuito de me ajudar
a menos vazia ficar,
De certo apenas aquelas poucas
e sofridas linhas bastaram.
Esmagadoras com seu peso opressor.

Os sintomas clássicos,
dos mais clichês:
dor flamejante e insuportável,
falta de ar,
incoerência, tormento, desespero,
tremedereira das mais desconfortáveis,
Meu coração diminuindo,
expremendo-se dentro de mim.
Sinto fortemente
seu gosto completamente salgado.
O choro.
Vem alarmante,
me faz querer um refúgio confiável,
onde haverá apenas
eu, meus pensamentos ordinários,
e por mais que eu não queira,
minha lastimável dor
e meu imenso e interminável Amor

Mas não há refúgio algum por perto,
Então, o mais rápido
e menos doloroso que pude
devolvi a ti
seus papéis rabiscados,
rabiscados rabiscos não muito abstratos,
estavam carregados de dor,
amores erráticos,
e pensamentos confusos em abundância
Não pude parar para pensar em nada,
nem mesmo em 1 + 1
ou no meu eu
ou no teu eu.

Fui-me embora o mais depressa impossível
No geral, chorar na frente
de outros rostos,
que não o meu,
não faz meu gosto.
O choro,
as tristes e angustiadas lágrimas
estavam à beira de meu precipício,
pondo seus pés direitos para a frente,
tomando impulso para se lançarem
para fora do abismo
no qual me tornei
após nosso abril sangrento

Respirar dói.
Queria não estar em lugar nenhum
Queria poder não existir,
não ter lido aquele "desabafo" no papel
não ter relembrado de coisas que ainda podem me ferir.

Acho que eu queria tanto
vê-la feliz,
com quem quer que fosse,
que não me dei conta
de que ao sentir-me
extremamente feliz
por você ter conseguido,
que meu eu
a perna em mim passou.
A felicidade na verdade
era a falta onipresente da tua ausência,
falta de você comigo.
A felicidade nada mais era
do que o auge do meu sofrimento.

Enterra-los-ei.
Hoje meus lírios secaram
morreram todos,
Meu jardim tornou-se
irreverente cemitério.
De luto estou.
Sepultem-m
e logo,
hoje eu realmente morri.

Mas não de dilacerante dor,
e sim de não consumado Amor.

domingo, 11 de outubro de 2009

ADêÍpsilon!

Tudo escuro, havia neblina
grunhidos e outros sons estranhos
Entrou alguém pela porta dos fundos
e com andar d'um felino, silêncioso e apressado, veio ao meu encontro
Eu parecia não estar esperando qualquer pessoa que fosse, sequer chuva.
Então ela tirou o sobretudo, sim, uma mulher... E jogou-o em cima de uma mesa de madeira com tampo roxo que estava por perto
e novamente, com seu andar silêncioso, foi para onde eu estava, deitada de bruços numa cama com castiçais altos, com suas supostas velas.
Todas acesas,

também havia incenso, de cedro, talvez
virei, olhei-a firmemente, de baixo para cima,
tão branca, aparentava delicadeza
Vermelho vivo era sua lingerie.

Senti algo subindo, tomou conta de mim,
era intenso.
Fixei meu olhar analisador nas feições de seu rosto
Fiquei paralisada, nada era coerente, nem mesmo o instinto
mais que predominante
Pensamentos fluíram juntos e nada pude entender.
Tentei respirar.
Senti-me tonta por um instante,

então, mais rápido do que podia imaginar,
a mulher misteriosa, branca e de compridos cabelos castanhos,
estava inclinando-se sobre mim
E eu queria aquilo mais que tudo,
não conseguia pensar em mais nada,
minha boca estava seca e o ar arranhava minha garganta.
Ela tinha a pele macia e quente,
deixei que me esmagasse com seu peso,
era meu desejo pronto para ser aplacado.
Ela, propositalmente, fazia movimentos lentos
Pôs sua mão em meu pescoço e afastou o cabelo que estava ali, por menores que fossem os fios
aproximou a boca,
Mordeu.
Chupou.
Lambeu.
Gemi roucamente.

Então, fora daquele mundo
tive a sensação de que conhecia aquela mulher.

E de volta àquele mundo,
ela punha a mão esquerda em minha coxa direita
escorregando-a maliciosamente
Estremeci e disse-lhe que não parasse por nada,
eu estava quase lá. Lá.
Ela sorriu e continuou,
dessa vez os movimentos não eram mais lentos,
mas eram muito bem feitos.

Não queria ter acordado.