"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
"Eu me recuso a ser sócio de qualquer clube que me aceite como sócio." (Grouxo Marx)
"Repara bem no que não digo." (Leminski)
"Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa" (Rita Lee)

I am not but I am

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil

sábado, 18 de setembro de 2010

Segredos de liquidificador

Eu ouviria seus suspiros sentiria suas batidas seu corpo veria seus olhos e veria sua felicidade sentiria seu Amor me tocando com pressão você obteria tudo de mim nós ficaríamos paradas andando falando em silêncio caminhando na luz da noite e sentindo o prazer do silêncio que diz tudo sem tremer onda sonóra alguma e ouviríamos nossos silêncios amorosos e singulares até o amanhecer entardecer anoitecer começo e recomeço então eu te abraçaria e beijaria tanto tanto tanto que ficaria sem fôlego mas não pararia jamais jamais te diria segredos de liquidificador e sairia sem dizer nada sem avisar sem celular e voltaria tarde tarde da noite ou no dia seguinte pra te deixar louca louca de saudade de medo de desespero de mim não te deixaria sair pela porta nem pela janela sem voltar para sempre nunca mais não te deixaria por nada.
Você ouviria meus sussurros e cantaria minhas tristezas infantis e gritaria minhas tolices você não-sei-o-quê não-sei-o-que-lá não se cansaria da minha cara de quem comeu e não gostou diria para vermos a chuva cair desenhando sólidos de revolução no vidro da janela da sala do quarto no espelho do banheiro me mostraria suas incertezas inevitáveis depois correria de mim de você mas voltaria não faz isso de não voltar porque se for preciso durmo ou não durmo de janelas e portas abertas só pra você entrar me abraçar beijar Amar chorar e superar quando você voltasse em uma duas ou três infinitas noites turbulentas eu estaria louca louca louca de saudade de medo de desespero de você seria minha minha só minha toda minha cada parte sua.





"Eu quero me chamar Mar você dizia e ria e ríamos porque era absurdo alguém querer se chamar Mar ah mar amar e você dizia coisas tolas como quando o vento bater no trigo te lembrarás da cor dos meus cabelos você não vai muito além desses príncipes pequenos."
(Caio Fernando Abreu)

domingo, 12 de setembro de 2010

Km

Não gosto desse tédio progressivo, nem dessa rotina evitável. Mas estamos aí. Não tenho mais ideias, não tenho mais palavras prontas, e quanto mais forço essa barreira imaginária, mais perco o que não tenho mais.

Meus dentes doem e a noite não tem fim. Quero correr, correr pra bem longe e sumir. Cadê as minhas forças para isso? Meus dentes doem, minhas pernas doem, minha cabeça dói, tudo dói. As paredes rangem, desmoronam, não tenho mais teto, não tenho mais chão. Nada.
Ah, porra, não tenho nada que seja material... É, isso. Minhas ideias evaporaram e minhas palavras prontas também. Amém. Vou viver de outra coisa, rodar bolsinha na esquina, vender bala no sinal, que se foda, na verdade, estou pensando em abrir um puteiro bem chique e cultivar uma plantação de maconha, estou feita. Mas se nada disso der certo viro hippie mesmo. Que seja, a vida é pra se viver, seja como for.

Porra, alguma merda na minha vida tem de dar certo e vai dar. Vai dar. Meus dentes ainda doem, desgraçados. Ando cansada, cansada da minha cara no espelho, cansada dessa casa, cansada do meu espírito cansado. Caralho. Caralho, quero viver, viver. Respirar, ver, abraçar, chorar feliz, rir, sonhar, concretizar, sorrir, andar, sentir, sentir, sentir.
Meu calendário está todo rabiscado, os dias que sobram pertencem ao outro ano. Meu relógio pifou, parece que não suportou toda essa carga. Mas meus dentes continuam doendo.
E esses quilômetros também, ah esses quilômetros, eles continuam entre nós.




"Talvez isso mude. Talvez você entre na minha vida sem tocar a campainha e me seqüestre de uma vez. Talvez você pule esses três ou quatro muros que nos separam e segure a minha mão, assim, ofegante, pra nunca mais soltar. Talvez você ainda possa pular no rio e me salvar."