Meus dentes doem e a noite não tem fim. Quero correr, correr pra bem longe e sumir. Cadê as minhas forças para isso? Meus dentes doem, minhas pernas doem, minha cabeça dói, tudo dói. As paredes rangem, desmoronam, não tenho mais teto, não tenho mais chão. Nada.
Ah, porra, não tenho nada que seja material... É, isso. Minhas ideias evaporaram e minhas palavras prontas também. Amém. Vou viver de outra coisa, rodar bolsinha na esquina, vender bala no sinal, que se foda, na verdade, estou pensando em abrir um puteiro bem chique e cultivar uma plantação de maconha, estou feita. Mas se nada disso der certo viro hippie mesmo. Que seja, a vida é pra se viver, seja como for.
Porra, alguma merda na minha vida tem de dar certo e vai dar. Vai dar. Meus dentes ainda doem, desgraçados. Ando cansada, cansada da minha cara no espelho, cansada dessa casa, cansada do meu espírito cansado. Caralho. Caralho, quero viver, viver. Respirar, ver, abraçar, chorar feliz, rir, sonhar, concretizar, sorrir, andar, sentir, sentir, sentir.
Meu calendário está todo rabiscado, os dias que sobram pertencem ao outro ano. Meu relógio pifou, parece que não suportou toda essa carga. Mas meus dentes continuam doendo.
E esses quilômetros também, ah esses quilômetros, eles continuam entre nós.
"Talvez isso mude. Talvez você entre na minha vida sem tocar a campainha e me seqüestre de uma vez. Talvez você pule esses três ou quatro muros que nos separam e segure a minha mão, assim, ofegante, pra nunca mais soltar. Talvez você ainda possa pular no rio e me salvar."
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