"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
"Eu me recuso a ser sócio de qualquer clube que me aceite como sócio." (Grouxo Marx)
"Repara bem no que não digo." (Leminski)
"Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa" (Rita Lee)

I am not but I am

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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Apoplexia social

Uma entrada estóica
um passo flutuante
bolha ululante

Um passo para o fim do penhasco,
amor é fiasco inerente,
cala a porra da boca e mostra os dente'

Outro passo em falso
futuro descascado feito a tinta da parede da sala atrás do sofá listrado,
fada verde e cigarrinho do capeta
não preciso mais de caderneta

Período integral
Lapa moral,
Não sinto muito, sou marginal

Sociedade patriarcal
amor maternal
Não quero você no meu funeral.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Lembranças esquecidas


  Sei que nunca vou esquecer meu primeiro pôr-do-sol das pedras do Arpoador. Não, eu não escolho de quais lembranças não devo esquecer, mas há certas coisas que são preferíveis deixar que se apaguem, que desapareçam. Desse pôr-do-sol certamente para sempre lembrarei, e do menino que me disse breguices no cinema enquanto assistíamos a um filme fantástico e ao qual eu não queria deixar de prestar atenção. Vou esquecer de lembrar de algumas pessoas e de rir-me sozinha lembrando fatos deliciosamente memoráveis. Também esquecerei daqueles carinhos que me fizeram na cabeça e de como aqueles dias eram imperdíveis. Já até esqueci os números do celular e da casa... E a cada dia que se passa estando longe, esqueço o rosto que um dia tanto me fez querer viver e tanto me fez querer virar poeira. Esqueço o inesquecível como se fosse um acontecimento fugaz e sem importância. O inusitado sempre me chamou pelo nome carinhosamente. Esqueço da fugacidade daqueles dias de banco para dar lugar ao novo desconhecido que me grita com fúria.
  Talvez meus passos fiquem marcados no infinito do espaço como se fossem constelações que sussurram nomes para as demais estrelas em busca do caminho da casa daquela que esqueço todos os dias, cada dia mais. Em vão, em vão...




"Quando era jovem, eu a mim dizia: 
Como passam os dias, dia a dia, 
E nada conseguido ou intentado! 
Mais velho, digo, com igual enfado: 
Como, dia após dia, os dias vão, 
Sem nada feito e nada na intenção! 
Assim, naturalmente, envelhecido, 
Direi, e com igual voz e sentido: 
Um dia virá o dia em que já não 
Direi mais nada. 
Quem nada foi nem é não dirá nada."
(Fernando Pessoa - na voz de Paulo Autran)




“Aquele mal secreto que a consumia e com o qual os médicos não se importavam muito - sem dúvida por não saberem dar-lhe um nome - parecia a Pascal uma espécie de desencarnação; nem todas as doenças vêm do corpo; uma alma por demais ardente pode usar seu invólucro carnal até aniquilá-lo; mas - infelizmente - nesse esforço para se depurar, não arruinaria a si própria? Naquele momento extremo em que o espírito se libera afinal, não se desvanecerá para sempre? Talvez fique suspenso, durante um breve clarão, numa lucidez absoluta. Como ocorria todas as vezes em que pensava na morte, Pascal sentiu-se acometido por uma vertigem. Suas considerações o levavam com frequência a esse tema, mas só conseguia considerá-lo por alguns segundos.” (Simone de Beauvoir - Quando o Espiritual Domina (La Primauté du Spirituel; cap. IV, Anne; pág. 169)




“Senhor, livrai-nos de tréguas muito prolongadas e da ilusão de haver chegado seja lá onde for.” (Claudel)