"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
"Eu me recuso a ser sócio de qualquer clube que me aceite como sócio." (Grouxo Marx)
"Repara bem no que não digo." (Leminski)
"Meu epitáfio será: Nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa" (Rita Lee)

I am not but I am

Minha foto
Rio de Janeiro, RJ, Brazil

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Momentos "nostalgia"

    Sinto falta de quando eu era criança, de quando estava triste e minha mãe me ninava enquanto eu chorava, fazia "shhh shhh" no meu ouvido e me dizia "vai ficar tudo bem", e mesmo que não ficasse - que fosse, eu jamais acreditava que fosse ficar -, eu podia continuar chorando até pegar no sono sem sentir culpa por isso. Hoje, ainda posso chorar, chorar, chorar muito por todos os meus problemas e decepções, mas não faz sentido, não vai adiantar chorar por todas as insatisfações e não haveria como fazê-lo sem sentir culpa, a não ser quando é noite, vou dormir e não é mais possível controlar, aí não há culpa que cale, apenas alívio...
    Mas não sou mais criança, não posso mais chorar por tudo e ter alguém fazendo "shh shh" no meu ouvido sem sentir vergonha.
    A vida é barro seco e minhas lágrimas são de pedra.










 O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
(Fernando Pessoa)

domingo, 17 de outubro de 2010

Instants

Depois de tudo o que passamos, de todos os nossos planos, de todas as nossas aventuras, acaba assim. Você não me abraça mais ao dormirmos, deita-se silenciosamente, meio afastada e virada para o outro lado. Parece que não estou mais aqui. Dia após dia, noite após noite, semana após semana, durante quinze anos fomos felizes e inseparáveis, mas agora, logo agora, que perdi meu seio, que perdi um pedaço carnal de mim mesma, você resolve arrancar de mim minha segurança, minha estabilidade... E se eu não quisesse que isso se destruísse? Não conta? Depois de todos esses anos... Parece que não estou mais aqui e que você não quer que algum dia eu já tenha estado, não me olhas mais, e quando o faz, não há doçura, nem paixão ou alegria em ver-me, é tão frio e abominável.
Desejo que o lugar para onde está indo seja melhor do que este, desejo que você se realize e que nunca se esqueça de mim, de nós. Não pense que sou cruel por isso. Sou pior, muito pior do que isso. Desejo que você jamais esqueça o quanto uns dias fomos as criaturas mais felizes que poderiam existir e que você estragou tudo com o seu egoísmo, com o seu orgulho infinito e com o seu escárnio desmedido. Desejo com a força de mil sóis que você viva, viva muito e muito bem, que tenha saúde o suficiente para ver todos os seus amores desfalecendo, morrendo, apodrecendo e se perdendo na memória do tempo.
E no último dia de vida, quando estiverdes arfando a última brisa, lembrará de todo o seu mal, de toda a sua insignificância, e já será tarde para tudo. Sozinha e infeliz. Que pena.
Depois de todas as cópulas, de toda a vivência... Nada valeu a pena, nada foi frutífero, nada sucedeu em coisa alguma. Nenhuma forma de amor é válida.



"O cruel vinha de que o silêncio também seria inábil e farposo,
contudo educado, então feria, e não pense que vou esclarecer
quem, facilitando a cegueira, pressa ou tontura: O cruel era a
palavra verbalizada, e o verbo era o mal? Mas o silêncio idem..."
(Caio Fernando Abreu - Morangos Mofados)