"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca, ou não toca." (Clarice Lispector)
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domingo, 18 de setembro de 2011

Não fossem as mudanças...



  Não  fossem as perdas, não sei o que seria de mim. Não fosse a desilusão, não sei o que seria dos outros. Gosto que o tempo passe, não é como eu, ele nunca pára - sob hipótese alguma. Não gosto desse vazio, que na verdade nem sei se é de fato vazio, sei que não é nem alegria, nem tristeza, afora isso não sei de mais nada. Saberia, não fosse o auto-retardamento... Não fossem as perdas, não sei o que seria das lições. Não fosse a calma, não sei o que seria o desespero, mas sobre calma sei mais teoria do que qualquer outra coisa, aliás, conheço o que é desespero de cor, portanto, imagino o que seja a calma.
  Por mim isso não teria perdurado tanto, tempo é coisa preciosíssima. Por mim muitas coisas seriam outras coisas. Por mim... Mas vergonha alheia não dá em todo mundo. Por mim ninguém seria obrigado a estudar exatas no colégio. Por mim coisas supostamente desimportantes não são de se jogar fora.
  Todo o dia sacudo a poeira da minha vida e rebolo aqueles bambolês de impropérios que sequer sei de onde vêm. Todo o dia merece ações distintas, mas nem sempre é possível, nem sempre é suportável. Nunca gostei de bambolês. Meus quadris nunca simpatizaram com eles e vice-versa.
  Há perdas-pra-todo-o-dia, há perdas até que se perca a conta delas, perder é inevitável. Encontrar também. Se encontrar idem. Força de vontade pra procurar é outra coisa. Estar disposto a se esfalfar procurando é outra coisa mais diferente ainda. Não fossem as perdas... Não fossem a força de vontade e menos ainda a disposição pra se perder procurando... É preguiça de viver. É obliteração proposital da vida.
  Sei que há caminhos mais fáceis - e alguns fáceis até demais -, e por isso não me agradam. E por isso somos tão incompatíveis, e por isso te deixo uma vaga lembrança de amor verdadeiro, e por isso me tiro indiscutivelmente desse antro de poucas ações, de poucas novidades, de calmaria inviável.
  Mudar, a única coisa da qual não abro mão. E você, você mesma, que pensava que a minha liberdade era tudo, sempre esteve claramente enganada. Não sei o que seria de mim se não fossem as mudanças, eternas e divinas mudanças, invioláveis. Mas por outro lado sempre esteve completamente certa - pelo visto, por motivos equívocos -, ao usar borboletas como referência: a metamorfose é inevitável.


“Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o que perder. Como quem não aposta.” (Caio Fernando Abreu)
"Sabe, quando a gente está com medo de entrar num quarto escuro, a melhor coisa a fazer é entrar de repente, sem pensar. Não adianta nada ficar do lado de fora, vendo fantasmas, imaginando coisas que não existem. Melhor entrar de uma vez." (Caio Fernando Abreu)
"Que eu possa tomar banho de cachoeira. Que eu seja a vontade de rir. Que eu possa chorar ao assistir filmes. Que transforme a raiva em vontade de me entender. Que eu possa soltar os vaga-lumes que prendi em potes. Que eu me lembre de ser feliz enquanto ainda estou vivo." (Carpinejar)
"De algum modo, sentia que estava ficando meio maluco. Mas sempre me sentia assim. De qualquer forma a insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?" (Charles Bukowski)