"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...

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sábado, 31 de julho de 2010

Verdades de mentira

O que adianta pensar em mim e criar verdades, ou fazer de mentiras, verdades, se não fala comigo? Já pensou que amanhã podemos não estar mais aqui? E que o tempo que tem comigo você não passa de maneira proveitosa? É, também não exerço muito bem o meu cargo imaginário. Do que estou falando então? Cargo imaginário, né, por dois motivos, 1) de fato não ocupo cargo nenhum, 2) nada passa desse plano, é imaginário, delusório... Talvez haja mais motivos, e daí? E se houver mais, diferença não faz, dá no mesmo, você fica imaginando e eu também, e nada passa disso.
Mas andei pensando muito, de verdade, e ela não foi inventada e nem transformada em si, andei pensando demais no "daqui pra frente, o que será de nós..", ou algo parecido, e não cheguei a lugar algum de primeira, mas de segunda me fluíram algumas coisas, nem todas otimistas, vieram dúvidas e outras coisas que me tiram a calma, mas vieram outras coisas também, mas também não penso que são otimistas. Senão todas, necessitam de esforço e compromisso... E "aquilo" mesmo cheio de outras coisas sentidas, não se basta com elas, é preciso mais, muito mais.
Mas e daí, nada disso importa para mim. Nada me afeta ou enobrece, nada me inquieta ou desentristece. A vida me deturpa. Sou solteira. Sim, porque há uma diferença gigantesca entre "ser" e "estar", ser é imutável, estar é mutável, adquire-se e perde-se. Sou solteira, nasci assim, vivo assim, morrerei assim. E nada impede, eu não me impeço, eu me impeço. Não me impeço de ser até o fim e me impeço de deixar que me impeçam. Mas sou passível de mudanças sempre, não confio em mim por isso, posso estar certíssima de algo e depois vou me provar estar certíssima de outra coisa, é a minha vida, é, tão incerta quanto posso definir, tão errante quanto quem a vive, ou não...
Essas verdades mal-contadas, transformadas e camufladas, elas acabam com essa pessoa que sou, ou que estou sendo, pode ser momentâneo, não tenho certeza, mas se tivesse, não faria diferença, nada dura pra sempre. A não ser que queiramos, mas isso também é muito duvidoso.
Que droga é não poder tomar uma decisão sem pensar na outra parte, olha a burocracia surgindo, tenho de pensar e repensar e pensar de novo, depois tenho de pesar e pesar novamente e pensar ainda mais... Melhor ainda, é a outra parte supercolaborar sendo superindiferente, isso me alegra tanto! Ou se é ou se está. Malditos joguinhos e orgulhos. Não é tudo, também dão um alô o menosprezo e a hipocrisia, sabe. São coisas sensacionais que eu adoro. Sem ironia... Adoro de verdade, mesmo que essa seja camuflada.
Foda-se, é tudo uma merda.





"Você vai me abandonar e eu nada posso fazer para impedir. Você é meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto."


"E quando alguém, no plano real, toma forma, a gente imediatamente projeta toda aquela emoção presa na garganta do sonho. E fatalmente se fode, porque está tentando adequar/ajustar um arquétipo, uma imagem de toda a nossa infinita carência, nossa assustadora sede, a uma realidadezinha infinitamente inferior."
(Caio Fernando Abreu)


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